Wednesday, November 22, 2006

Ao mendigo da Rua X...

Ao sair de casa resolvi quebrar a rotina... e deixei que os meus pés marcassem o rumo.
Dei por mim a sentar-me, num reles banco da Rua X, depois de ter vagueado pelos sonhos perdidos das nultidões mecânicas, feias, e frias de hoje. Não sei bem porquê, mas tenho a percepção de que ainda é bem cedo... Daí a alguns minutos as pessoas levantar-se-ão para se tornarem um pouco mais frustradas, no trabalho, na escola, no mundo...
E tu estás ainda deitado no chão desse passeio, com cobertores de papelão... e os ossos parecem ter uma vontade imensa de perfurar-te a pele... e a fome e o frio servem-te de companhia.
Olho para ti e tenho pena, sim tenho... porque todos passam na Rua e viram o olhar...
Algures passa uma menina bem vestida, que te olha como um ser humano, e a sua mamã puxa-a pela mão. Ela volta a cabeça, arrastando os seus pequenos olhos por ti, mas a força do impulso do esticão da sua mãe prevalece, é mais forte. Estás tão resignado com o facto de ninguém te olhar, que nem reparas no olhar daquela menina, que pareceu gravar na sua mente, a tua expressão de tristeza.
Uma chuva miudinha começa a cair, despertando o cheiro de terra... mas isto é uma cidade; a terra é pouca, respira-se um ambiente ciatdino... O fumo, as nuvens, o cinza, e o cheiro de sangue, de esgoto, de ratazanas vestem toda a cidade...
Mas afinal TU és um homem... e não tens nada! Dinheiro, família, ou sequer vida própria...
E eu aqui sentada neste banco, vejo o desprezo, a raiva, o medo estampado no rosto daqueles que teimam em afirmar-se como pessoas, quando são apenas vagabundos, são apenas alguns dos que vagueiam pelo Mundo... ESSES?! Será que não se enxergam??? Eles são como tu (piores talvez), mas não têm noção disso. Então julgam-se superiores. Passam lavados, bem vestidos, de nariz emproado... COITADOS... nem sabem quem são!!! Nem têm vida própria, tal como TU.
E tu continuas aí, deitado, como caído no chão...
Mas não te preocupes!!! O Natal está a chegar, e aí todos se lembrarão de ti... Afinal o "Natal é todos os dias". Pelo menos é o que dizem; e por esse motivo todos te vão acolher, dar-te esmola. Passar por cima da própria repulsa, do medo e orgulho e ajudar-te-ão...
Só porque o Natal está a chegar, e fica sempre bem (socialmente) ajudar.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home