Saturday, November 10, 2012




Partiram as andorinhas e do Sol só restam os ecos ternos,quentes. Presságio que anuncia a minha chuva derradeira. Está de volta. Uma precipitação miudinha que é tão minha, que eu adoro...Daquele Verão restam escombros, ternuras, desassossego. E a minha chuva fria traz-me a calma que me lava, purifica, mas me transtorna. Tinha saudades tuas, chuva! Saudades de te ouvir no silêncio frenético dos passos agitados, no burburinho citadino ou no bucolismo do campo. Adoro a tua melodia, nas primeiras pingas que se enterram no solo, debaixo dos meus descalços pés, e liberta-se o aroma da terra molhada. Tinha saudades de te ouvir nos caleiros dos telhados tristes ou nas derrapagens dos pneus gastos nos lençóis de água. Trazes-me alento e nostalgia.
Daqui a nada virá o frio e o meu Inverno se concretizará. Sei que vou respirar nos meus pulmões aquele frio saboroso e o aquecerei. Sei que vou beber dos meus lábios as gotas de chuva que ousarem molhá-los. E num bafejo soltarei a minha respiração evaporada no ar. Prevejo um sonho que deixou o meu corpo e deixo-o partir em direcção ao céu. Está de volta o meu triste e adorado Inverno que tanto amo. Os cânticos são melancólicos mas entoam algo em mim... contra-senso... E o Verão extinguiu-se aqui. Algures ele amanhecerá, espero, sei que sim... Que seja para alguém o que foi para mim.
Sinto frio agora. Nem as lembranças me deixam. Receio, anseio. Está de volta o meu adorado Inverno, que me inspira e enclausura. E sem que ninguém compreenda eu o adoro, injustificavelmente...
 Cumplicidade que me absorve e esgota, mas que me sustenta. Gostava de explicar-te aprendiz! Um dia ensino-te a amar. Ensino-te a amar o Inverno, que tantos odeiam. Mostro-te tudo o que tem de belo e aí entenderás. Saberás porque não fico triste com a partida do Verão e por que sou tragicamente apaixonada pelo frio, pela chuva, pelos trovões que partem o céu. Em Espanha vi trovoada no mar, há muitos anos atrás... Petrificada de medo não me movi. Contemplei cada relâmpago embalado em suspiros e arrepios de medo. Lindo! Como se o céu e mar se atraíssem e negassem, como se fizessem amor e se arrependessem de imediato. É tudo isto que te digo que me faz adorar o Inverno. "Austero, forte" - dizes tu?! Poderia mostrar-te como estás enganado. Saberia mostrar-te tudo de belo que ele tem. Conheço-o de cor, tão bem... Hoje, confia em mim! Acredita quando te digo que o Inverno é lindo. Um dia vou provar-to. Vou mostrar-te todos os segredos que ele encobre... descortinei-os há muito. Prometo que um dia te mostro, que um dia te ensino como fazer para te apaixonares pelo meu doce e quente Inverno.  Se tenho saudades do Verão???? Sim, tenho. Talvez mais do que possas imaginar. Não posso dizer-te porquê, mas juro-te que o último verão nunca será esquecido. Prometo-te, assim como prometi que um dia te ensino a amar... Não é contradição... É fado... quase como os trevos que teimam em nascer com quatro folhas.

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