Friday, December 29, 2006

“Amar depois de Amar-te”

A última folha caíra, e o último cisne abandonava o lago. As brisas fortes e azuis anunciavam o Inverno. Mas nesse Tempo, o Inverno chegara devastador para congelar as pétalas das tulipas, encarcerar os bailados e as sinfonias num palácio de gelo, bem como para gelar o seu coração… e a primeira noite de Inverno caiu. Vestiu as cordilheiras de um alvino puro, os céus de azuis lilases e prata, e a floresta de cinzas e matizes tristes. E nessa primeira noite de Inverno…
Nessa noite ela percebeu que o Inverno viera para lhe roubar o seu amor, para o aprisionar na corrente gelada dos rios, e chorou… vieram tempos de trevas, de dor que trouxeram dementores de gelo, que ao avistarem a debilidade de Cinderela se comoveram, fazendo-a esquecer esse amor sem possibilidade, fazendo-a esquecer o homem que ela julgava ser um príncipe. E um ano se passou… as flores despontaram, cresceram e morreram, assim como os sonhos e a esperança. E do Tempo emergiu a mesma noite de Inverno de há um ano atrás. Havia sido durante essa noite que ela percebera que o seu amor fora resgatado por dementores gélidos, que ao ver o seu estado débil recearam a sua morte…porque ela tinha ainda aquela doçura e ingenuidade de criança e teimava em acreditar em algo que há muito o tempo havia roubado para longe de si…As trevas pintavam de negro as suas vestes como se de uma viúva se tratasse, e ela era apenas uma Cinderela. E quando as brisas de gelo, com aroma de águas, acariciaram a sua face ela teve a súbita lembrança do seu amor… o Inverno havia destruído tudo isso, e ela chorou. Chorou ao reparar que até o seu amor havia sido esquecido. Amava um príncipe mas ele havia partido para muito longe e encontrara outras princesas por quem se havia apaixonado. Cinderela respirou de novo a brisa que a sufocava, e os cristais de gelo cintilantes eram inalados por si como se de perfumes exóticos se tratassem queimando-lhe o peito. Os seus olhos gelaram e o tom de cinzento cobriu o verde dos seus olhos… e como o seu amor era forte ela chorou ainda pequenas lágrimas de cristal que rolaram sobre a sua face de mármore azul. Cinderela compreendera nesse momento que o Inverno de outrora não voltaria, e o Inverno de Hoje iria partir para os tempos místicos do Passado. Então o Inverno comoveu-se ao ver aquela pequena Cinderela chorar, pois nem a força das suas tempestades apagaram aquele homem, aquela imagem, aquele nome… e até o Inverno chorou… não haviam sido as tempestades que apagaram a sua lembrança, pois Cinderela sempre fora fiel ao seu amor. Cinderela esqueceu-o pela sua ausência, pela sua cobardia, pela sua incapacidade… O amor de Cinderela estivera sempre lá, mas o príncipe esqueceu-se algures bem longe, no Tempo e no Espaço… e agora no final deste Inverno esta Cinderela chorou pela última vez por perceber que o príncipe que um dia amara tornou-se numa Besta… não chorara por ele mas pela sua ingenuidade. Mas a neve crua começava já a esfumar-se e as primeiras flores começavam a despontar… uma nova questão se erguia: Como Amar depois de amar-te????
Mas os pássaros começavam a chilrear, e a Primavera anunciava um novo alento, quiçá um novo príncipe. Quanto à Cinderela… ela não morreu!! Feneceu… mas hoje, no lugar que um dia existiu uma princesa triste, há uma rainha feliz!!!

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