Monday, November 27, 2006

No tempo do Nada
Eu era uma borboleta
Pura, singela, natural
E tu?
Tu criaste-me.
Tu protegeste-me.
Deste-me esperança, vida, alento
Mas depois veio outro Tempo!!
Tempo de alguém,
De um outro alguém.
E tu que me criaste na mão…
Tu que me deste a vida nas tuas mãos…
Tu que pintaste as minhas asas de matizes suaves,
Tu?!
Tu…
Arrancaste me as asas,
Quebraste-as como vidro,
Rasgaste-as como quem rasga papel
E olhaste para mim,
Olhaste como quem ama, como quem me amou
Mas as tuas palavras eram de carvão,
Eram azedas…
E disseste me: voa!!
Só para me humilhar
Só para me magoar
E eu,
Que nas tuas mãos era protegida
Tombei,
Arrastei os meus olhos pelo teu sorriso
E morri
Só para que pudesses ter outra borboleta
Para que pudesses voltar a criar,
E pintar outras asas de matizes suaves,
Para que pudesses voltar a amar uma borboleta
Só para não te magoar
Só para que pudesses ser feliz com a minha morte
Corri para o meu fim,
Corri para a minha morte
Corri para o meu túmulo,
Corri…
Porque me arrancaste as asas…
… e nem no fim da vida eu pude voar!
A ti avó…

Era uma vez uma casa velha perdida na aldeia… Os montes altos a protegê-la, e os prados verdes com malmequeres amarelos terminavam de pintar a paisagem… e lá nesse recanto a existia a Tua casa alva, pequena, perfeita…
O dia é de Primavera, com frutos de Verão, e brisas de Outono. Ao subir o estreito caminho de terra, vêem-se os lençóis brancos, as rendas e os linhos esticados a dançar com o vento, e vêem-se as cerejeiras em flor… Da pequena janela da tua cozinha foge um aroma adocicado, leve, suave… e no pequeno quarto, junto à parede caiada tu estás a costurar. As rugas sulcam a tua cara, e os teus olhos são de serenidade, de paz… e ao som mecânico da velha máquina de costura, tu suspiras… as manchas escuras desenham-se nas tuas pobres mãos cansadas, que empurram e puxam o tecido em compassos de tempos perdidos… ao olhar para ti conheço a tua História. Foste criança órfã, criaste os irmãos e pariste oito filhos, e a vida pintou-te um destino cruel… tirou-te filhos e marido. Mas ainda assim tu vives!!! Tens doçura e esperança no olhar…Ao ver-te sei que te amo, e no entanto nunca to disse.
E agora recordo as noites em que no frio me aconchegaste, as noites estreladas em que os teus contos e histórias de encantar me adormeciam; as auroras dos dias claros em que vinhas pela manhã acordar-me com um beijo, e os sonos das tardes quentes de Verão em que vinhas deitar-te ao meu lado para me embalar.
Nessa casa tudo era perfeito, pois as manhãs tinham o aroma de chá e canela, as tardes tinham o sabor das polpas frescas dos frutos, e o entardecer era marcado por um sol que nunca mais eu vi, e pelo cheiro das violetas dos regatos, pela hortelã fresca, e pela cor dourada dos campos que iam até ao fim do horizonte… aí eu fui tão feliz…
Nesse grande quinteiro eu aprendi a andar e brincar, e pisei a terra seca do teu quintal, brinquei no meio das ervas, tomei banho no tanque fresco nos dias de Estio, corri pelas plantações de trigo brilhante… aí entre as rendas brancas do teu enxoval, das manhãs frescas de Primavera, nos longos dias de Verão, nas tardes alaranjadas do Outono, e no frio íngreme de Inverno eu cresci…
E Tu, senhora dessa pequena casa perdida no Tempo, Tu… deixaste que eu apanhasse as rãs dos riachos, deixaste que eu subisse às arvores para apanhar cerejas, deixaste que, com a minha pequena mão pegasse no milho para os pintainhos, deixaste que batesse a massa dos teus bolos, deixaste que caminhasse nos pinhais procurando novas flores e bichos, deixaste que colhesse as flores para as jarras, deixaste que colhesse as uvas em Outubro, que as pisasse com os pés. Deixaste que eu dançasse descalça nas desfolhadas, que salpicasse de açúcar e canela as rabanadas, deixaste que cantasse enquanto lavavas a roupa no tanque e corresse pelo meio dos lençóis estendidos… Tu, senhora, deixaste-me viver a minha infância nessa casa perfeita. Tu deixaste que eu crescesse e aprendesse a viver…
Por tudo isso, AVÓ, eu te agradeço e amo… por teres sido a minha mãe quando eu não tinha mãe, por teres sido a minha professora, quando todos estavam ausentes…obrigada!!! Sem ti essa menina que criaste seria diferente… obrigada por me deixares correr descalça pelos campos, obrigada por me mostrares o que eram estrelas, obrigada por me protegeres sempre que eu tive medo, obrigada por me contares histórias nas noites em que não dormia, obrigada por deixares a tua cama, quando eu te acordava a meio da noite com medo do escuro e vinhas deitar-te ao meu lado, obrigada por me teres deixado adormecer no teu colo, obrigada por me levares o leite à cama nas noites de neve, obrigada pelos casacos de malha que com tanto carinho tricotaste, obrigada pelo olhar de carinho quando eu ficava doente… obrigada por fazeres de mim o que sou, obrigada por que foste minha mãe…Desculpa a minha impotência, perdoa-me por não poder fazer mais… perdoa-me!!!
Não me deixes sozinha.
Amo-te!!!

Por ti avó... ...só porque tu mereces!

Wednesday, November 22, 2006

Ao mendigo da Rua X...

Ao sair de casa resolvi quebrar a rotina... e deixei que os meus pés marcassem o rumo.
Dei por mim a sentar-me, num reles banco da Rua X, depois de ter vagueado pelos sonhos perdidos das nultidões mecânicas, feias, e frias de hoje. Não sei bem porquê, mas tenho a percepção de que ainda é bem cedo... Daí a alguns minutos as pessoas levantar-se-ão para se tornarem um pouco mais frustradas, no trabalho, na escola, no mundo...
E tu estás ainda deitado no chão desse passeio, com cobertores de papelão... e os ossos parecem ter uma vontade imensa de perfurar-te a pele... e a fome e o frio servem-te de companhia.
Olho para ti e tenho pena, sim tenho... porque todos passam na Rua e viram o olhar...
Algures passa uma menina bem vestida, que te olha como um ser humano, e a sua mamã puxa-a pela mão. Ela volta a cabeça, arrastando os seus pequenos olhos por ti, mas a força do impulso do esticão da sua mãe prevalece, é mais forte. Estás tão resignado com o facto de ninguém te olhar, que nem reparas no olhar daquela menina, que pareceu gravar na sua mente, a tua expressão de tristeza.
Uma chuva miudinha começa a cair, despertando o cheiro de terra... mas isto é uma cidade; a terra é pouca, respira-se um ambiente ciatdino... O fumo, as nuvens, o cinza, e o cheiro de sangue, de esgoto, de ratazanas vestem toda a cidade...
Mas afinal TU és um homem... e não tens nada! Dinheiro, família, ou sequer vida própria...
E eu aqui sentada neste banco, vejo o desprezo, a raiva, o medo estampado no rosto daqueles que teimam em afirmar-se como pessoas, quando são apenas vagabundos, são apenas alguns dos que vagueiam pelo Mundo... ESSES?! Será que não se enxergam??? Eles são como tu (piores talvez), mas não têm noção disso. Então julgam-se superiores. Passam lavados, bem vestidos, de nariz emproado... COITADOS... nem sabem quem são!!! Nem têm vida própria, tal como TU.
E tu continuas aí, deitado, como caído no chão...
Mas não te preocupes!!! O Natal está a chegar, e aí todos se lembrarão de ti... Afinal o "Natal é todos os dias". Pelo menos é o que dizem; e por esse motivo todos te vão acolher, dar-te esmola. Passar por cima da própria repulsa, do medo e orgulho e ajudar-te-ão...
Só porque o Natal está a chegar, e fica sempre bem (socialmente) ajudar.

Saturday, November 18, 2006

A uma Flor muito especial...

Eu aprendi que as flores são puras, singelas,naturais... ...mas cheias de força e vigor.
E a Primavera foi embora mas a Flor resistiu e deixa-se estar ao meu lado...
Mesmo quando o Mundo conspirou para me virar as costas, e quando todos os meus amigos decidiram virar as costas, porque têm (ou não) problemas de força maior... Porque o Mundo é cruel demais, e eu me sinto só, e todos teimam em olhar somente para o seu umbigo... O MEU GRANDE OBRIGADA A ESSES AMIGOS POR ME FAZEREM SENTIR TÃO MAL, POR SE TEREM ESQUECIDO QUE AFINAL EU TAMBÉM ERA UMA AMIGA...
E por isso neste momento, neste Inverno que chega, em que sinto o Mundo a fugir de mim, a deixar-me sozinha, qual menina perdida... neste momento em que até um mendigo tem mais força do que eu, em que até as pedras gastas da calçada são melhores e mais fortes do que eu,um obrigado sincero à Flor...
Porque o Inverno acre chegou e ainda assim a Flor não desflorou, e continua a meu lado.Pura, Singela, Natural, simplesmente como ela é...
Obrigada por estares a meu lado, quando o Mundo me virou as costas, e só tu pareces estar...
Obrigada Flor.

Wednesday, November 08, 2006

SEM TEMPO...

Ainda há pouco tempo criei este Blog e já digo não ter tempo para o editar. Todavia houve uma explicação : TESTE DE ECONOMIA!!! lol
Mas já passou...