Friday, December 29, 2006

Reconheces-me???

Reconheces?
Reconheces-me???
Assim…

atrás das sombras e dos véus de cetim?!
das fitas douradas em que me escondo?!
Reconheces-me???
Assim…

nas óperas nunca antes tocadas?!
e morta, nas valsas que nunca me ensinaste a dançar?!
Reconheces-me enclausurada nos cristais de gelo quente?!
Perdida nos sons agudos das cordas secas dos violinos?!
Nas teclas sujas dos pianos celestes?!
Reconheces-me???
No veludo carmim do meu vestido
Onde cada nota musical é um arfar,
um perder, um ser vencida
Reconheces-me???
Assim…quando arrasto as vestes pela lama e pelo medo?!
E quando piso a poeira de ouro e prata?!
Reconheces-me no céu e na terra?!
No meio das estrelas e do vácuo a que chamam viver???
RECONHECES-ME???
Eu sempre estarei por aí… vagueando…
Vendo-te sob cortinas de silêncios meus.
Silêncios que os deuses teimam em sufocar
Para que tu, enquanto mortal, possas viver
Possas acariciar a pele de outras, sem me reconhecer
Quando bastar eu estarei por aí… sempre vagueando.
Ao sabor dos meus silêncios enclausurados,
Vestindo os carmins dos meus veludos
Tendo a pele dourada de suavidade à tua espera…
Estarei por aí… vagueando meu amor…
Só à espera que tu me reconheças.

“Amar depois de Amar-te”

A última folha caíra, e o último cisne abandonava o lago. As brisas fortes e azuis anunciavam o Inverno. Mas nesse Tempo, o Inverno chegara devastador para congelar as pétalas das tulipas, encarcerar os bailados e as sinfonias num palácio de gelo, bem como para gelar o seu coração… e a primeira noite de Inverno caiu. Vestiu as cordilheiras de um alvino puro, os céus de azuis lilases e prata, e a floresta de cinzas e matizes tristes. E nessa primeira noite de Inverno…
Nessa noite ela percebeu que o Inverno viera para lhe roubar o seu amor, para o aprisionar na corrente gelada dos rios, e chorou… vieram tempos de trevas, de dor que trouxeram dementores de gelo, que ao avistarem a debilidade de Cinderela se comoveram, fazendo-a esquecer esse amor sem possibilidade, fazendo-a esquecer o homem que ela julgava ser um príncipe. E um ano se passou… as flores despontaram, cresceram e morreram, assim como os sonhos e a esperança. E do Tempo emergiu a mesma noite de Inverno de há um ano atrás. Havia sido durante essa noite que ela percebera que o seu amor fora resgatado por dementores gélidos, que ao ver o seu estado débil recearam a sua morte…porque ela tinha ainda aquela doçura e ingenuidade de criança e teimava em acreditar em algo que há muito o tempo havia roubado para longe de si…As trevas pintavam de negro as suas vestes como se de uma viúva se tratasse, e ela era apenas uma Cinderela. E quando as brisas de gelo, com aroma de águas, acariciaram a sua face ela teve a súbita lembrança do seu amor… o Inverno havia destruído tudo isso, e ela chorou. Chorou ao reparar que até o seu amor havia sido esquecido. Amava um príncipe mas ele havia partido para muito longe e encontrara outras princesas por quem se havia apaixonado. Cinderela respirou de novo a brisa que a sufocava, e os cristais de gelo cintilantes eram inalados por si como se de perfumes exóticos se tratassem queimando-lhe o peito. Os seus olhos gelaram e o tom de cinzento cobriu o verde dos seus olhos… e como o seu amor era forte ela chorou ainda pequenas lágrimas de cristal que rolaram sobre a sua face de mármore azul. Cinderela compreendera nesse momento que o Inverno de outrora não voltaria, e o Inverno de Hoje iria partir para os tempos místicos do Passado. Então o Inverno comoveu-se ao ver aquela pequena Cinderela chorar, pois nem a força das suas tempestades apagaram aquele homem, aquela imagem, aquele nome… e até o Inverno chorou… não haviam sido as tempestades que apagaram a sua lembrança, pois Cinderela sempre fora fiel ao seu amor. Cinderela esqueceu-o pela sua ausência, pela sua cobardia, pela sua incapacidade… O amor de Cinderela estivera sempre lá, mas o príncipe esqueceu-se algures bem longe, no Tempo e no Espaço… e agora no final deste Inverno esta Cinderela chorou pela última vez por perceber que o príncipe que um dia amara tornou-se numa Besta… não chorara por ele mas pela sua ingenuidade. Mas a neve crua começava já a esfumar-se e as primeiras flores começavam a despontar… uma nova questão se erguia: Como Amar depois de amar-te????
Mas os pássaros começavam a chilrear, e a Primavera anunciava um novo alento, quiçá um novo príncipe. Quanto à Cinderela… ela não morreu!! Feneceu… mas hoje, no lugar que um dia existiu uma princesa triste, há uma rainha feliz!!!

Pequeno Pierrot

Nessa noite, enquanto chorava
olhei o céu
e um Pierrot deslizou para mim
entre estrelas e astros desceu, desceu.
E veio até mim,
ajoelhou-se ao meu lado
bebeu as minhas pobres lágrimas
e olhou-me com olhos de dor.
E no silêncio das violetas
perguntou-me porque escondia o amor
que por ti sentia.
Sorri…
E naquele ambiente que me envolvia,
nesses perfumes perdidos que a noite esconde
nesse mundo de sinestesias aromatizadas
voltei a chora…
E o aroma de violetas e de sândalo
acordou espíritos, sombras e sereias
e como num bailado de Morte
vieram juntar-se a mim.
Vieram espiar todos os pecados
destas pobres almas do mundo que são os Homens.
Num bailado de espíritos, sombras e sereias
e o pequeno Pierrot
veio sentar-se no meu ombro desamparado
e nesse bailado de mágicos aromas ,
de horas perdidas
que ainda vagueiam no tempo,
sussurrou-me: diz que o amas!!!!!!!
E eu, qual menina perdida, chorei, e disse que não…

Saturday, December 02, 2006

E agora???

Teimo em querer fugir de todos, de tudo, do amor...
...mas muitos parecem descobrir-me a cada dia que passa, e eu teimo em resistir, em afirmar um não de que já nem eu tenho certezas...
As palavras assustam-me e poucos sabem porquê!!! Mas o medo é uma constante, e mantém-se fixo no meu presente... Só tenho medo do amor, só tenho medo da Razão, tenho medo de cair, e que nunca me perdoes... porque tu és especial... por isso é que fujo de Ti... porque TU também pareces descobrir-me, pareces ser dos tais... mas e se não fores?! A vida será só mais um Inferno, uma destruição...
Por isso, deixa o tempo correr, por favor nao teimes em descobrir-me porque se o fizeres seá o fim... TU não entendes!! E ela que teima em questionar-me, em pensar que existe algo, que gosta de me ler, também não compreende. Só pergunto: e agora???
Deixem-me continuar no meu silêncio, no meu sossego, na minha paz... deixem-me acreditar que não estou apaixonada quando muitos teimam em dizer que sim.